Nascido em 1912 em Pirangi, na Bahia, Jorge
Amado já publicou inúmeras obras, dentre as quais, 25 romances; dois livros de
memórias, duas biografias - a do poeta Castro Alves e a do comunista Luis
Carlos Prestes - duas histórias infantis e uma infinidade de outros trabalhos,
entre contos, crônicas e poesias.
Publicou seu primeiro romance, O país do
carnaval, em 1931. Casou-se em 1933, com Matilde Garcia Rosa, com quem teve uma
filha, Lila. Nesse ano publicou seu segundo romance, Cacau.
Formou-se pela Faculdade Nacional de
Direito, no Rio de Janeiro, em 1935. Militante comunista, foi obrigado a
exilar-se na Argentina e no Uruguai entre 1941 e 1942, período em que fez longa
viagem pela América Latina. Ao voltar, em 1944, separou-se de Matilde Garcia
Rosa.
Em 1945, casou-se com Zélia Gattai.
Em 1947, Jorge Amado teve que se exilar com
a família na França, onde ficou até 1950, quando foi expulso.
De volta ao Brasil, Jorge Amado afastou-se,
em 1955, da militância política, sem, no entanto, deixar os quadros do Partido
Comunista. Dedicou-se, a partir de então, inteiramente à literatura. Foi
eleito, em 6 de abril de 1961, para a cadeira de número 23, da Academia
Brasileira de Letras, que tem por patrono José de Alencar e por primeiro
ocupante Machado de Assis. Doutor Honoris Causa por diversas universidades,
Jorge Amado orgulhava-se do título de Obá, posto civil que exercia no Ilê Axé
Opô Afonjá, na Bahia.
A obra literária de Jorge Amado conheceu
inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de
escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países,
em 49 idiomas, existindo também exemplares em braile e em fitas gravadas para
cegos.
Em 1987, foi inaugurada em Salvador, Bahia,
no Largo do Pelourinho, a Fundação Casa de Jorge Amado, que abriga e preserva
seu acervo, colocando-o à disposição de pesquisadores. A Fundação objetiva
ainda o desenvolvimento das atividades culturais na Bahia.
Jorge Amado morreu em Salvador, no dia 6 de
agosto de 2001. Foi cremado, e suas cinzas foram enterradas no jardim de sua
residência, na Rua Alagoinhas, em 10 de agosto, dia em que completaria 89 anos.
Características
Literárias
Em sua obra, Jorge Amado destaca o pobre, o
negro, os marginalizados, enfim, todos os excluídos da sociedade, e os
apresenta de modo diferente, narrando lhes a vida, os pensamentos, os desejos,
ressaltando que estes também são humanos.
O cenário é, normalmente, a zona urbana ou
de plantação de cacau ou café da Bahia.
Jorge Amado é um dos destaques do
Modernismo e em suas obras coloca a necessidade de justiça social Também
acrescenta um tanto de ideologia política, sempre em defesa do povo.
Jorge Amado era grande
apreciador da cultura negra e usa muito esse elemento em seus livros. Também
ressalta o erotismo, além da sensualidade da mulher brasileira.
Enredos
Gabriela Cravo e Canela
O livro inicia-se no ano de 1925. Naquele
ano todos os fazendeiros estavam preocupados com a estação das chuvas, pois
nunca havia chovido tanto. Meses depois, todos estavam preocupados com a seca,
por isso começaram a aclamar por chuvas para o padroeiro São Sebastião e São
Jorge. Até procissões foram feitas. Durante uma delas aconteceu o falado
milagre e as chuvas começaram. Choveu tanto que ficou tudo inundado.
Os mais beneficiados com as chuvas foram os
fazendeiros de cacau e café. Dentre eles estava o Coronel Manuel das Onças, que
ia vender o seu produto ao Mundinho Falcão, que era um jovem carioca que veio
para Ilhéus e lá enriquecera como exportador.
O Coronel fez três viagens e numa delas
encontrou o cozinheiro Nacib Saad, dono do bar Vesúvio, que estava desesperado,
pois havia perdido sua melhor cozinheira, Dona Filomena.
Gabriela chegara a Ilhéus junto de um grupo
de pessoas, entre as quais estava Clemente, que estava interessado nela. Numa
noite os dois deitaram-se debaixo de uma árvore enorme e lá ficaram conversando
durante horas. No outro dia, porém, Gabriela não queria méis saber dessa noite.
Então Clemente saiu de Ilhéus, mas ela lá ficou.
Um crime abalou a cidade. O Coronel Jesuíno
matou Dona Sinhazinha e o Doutor Osmundo, sua esposa e o amante dela.
Nacib precisava entregar um grande jantar,
mas estava sem cozinheira, por isso foi em busca de uma. Nas feiras nenhuma lhe
serviu, mas , de repente, uma lhe chamou a atenção: Gabriela.
Chegando ao bar Vesúvio, Nacib mostrou os
afazeres para Gabriela,
No grande jantar, acirraram-se as
diferenças políticas. Declara-se guerra pelo poder em Ilhéus entre Mundinho
Falcão (oposição) e os Bastos (governo). Quando o jantar acaba, Nacib volta
para casa e quando ia deixar um presente para Gabriela, tem com ela a primeira
noite de amor.
Um engenheiro chamado por Mundinho tende a
impedir que os grandes navios atraquem no porto de Ilhéus.
Nacib faz um pedido a Gabriela “perfume de
cravo e com de canela” se ela aceita se casar com ele. Ela pensa bem e diz que
sim. Foi o casamento mais animado de Ilhéus, Gabriela de azul celeste, de olhos
baixos, sapatos a aperta-la e um riso tímido nos lábios. O mais emocionante foi
a festa.
No último capítulo resolvem-se todos os
casos. Josué e Glória oficializam sua relação, apesar de Glória ser expulsa de
casa. Coronel Ramiro Bastos perde o apoio de Itabuna e manda matar, sem
sucesso, seu ex aliado. Ele consegue fugir, mas morre dias depois. Com isso a
guerra política acaba, com Mundinho Falcão e seus candidatos vencedores.
Quanto a Nacib e Gabriela, ela não se
adapta de jeito nenhum a vida de senhora Saad, para desespero de Nacib, que
acaba anulando o casamento ao pegá-la na cama com Tonico Bastos, o seu padrinho
de casamento. Tonico foi tão humilhado por Nacib que decidiu sair da cidade.
Com isso, o casamento foi anulado com facilidade.
Grandes obras são feitas na cidade, entre
elas Nacib e Mundinho abrem um restaurante juntos. Semanas depois Nacib e
Gabriela, que procurou trabalho no restaurante, reiniciam seu caso, tão ardente
quanto era antes.
Então o Coronel, que no início matou sua
mulher e o amante, é condenado a prisão.
Trecho e Análise
“Falavam da safra anunciando-se
excepcional, a superar de longe todas as anteriores. Com os preços do cacau em
constante alta, significava ainda maior riqueza, prosperidade, fartura,
dinheiro a rodo. Os filhos dos coronéis indo cursar os colégios mais caros das
grandes cidades, novas residências para as famílias nas novas ruas
recém-abertas, móveis de luxo mandados vir do Rio, pianos de cauda para compor
as salas, as lojas sortidas, multiplicando-se, o comércio crescendo, bebida
correndo nos cabarés, mulheres desembarcando dos navios, o jogo campeando nos
bares e nos hotéis, o progresso enfim, a tão falada civilização.
E dizer-se que essas chuvas agora demasiado
copiosas, ameaçadoras, diluviais, tinham demorado a chegar, tinham-se feito
esperar e rogar! Meses antes, os coronéis levantavam os olhos para o céu
límpido em busca de nuvens, de sinais de chuva próxima. Cresciam as roças de
cacau, estendendo-se por todo o sul da Bahia, esperavam as chuvas
indispensáveis ao desenvolvimento dos frutos acabados de nascer, substituindo as
flores nos cacauais. A procissão de são Jorge, naquele ano, tomara o aspecto de
uma ansiosa promessa coletiva ao santo padroeiro da cidade.”
Nesse trecho nota-se as
características de uma obra de Jorge Amado: a zona cacaueira da Bahia como pano
de fundo, a crítica contida, quando se falam em coronéis, à ordem social. Além
disso, ao longo do livro vê-se outras características, como o romance nas
camadas mais pobres da sociedade e ênfase ao erotismo e a sensualidade da
mulher brasileira, caracterizada por Gabriela.
Capitães da Areia
O livro se passa nas areias e nas ruas de
Salvador, na Bahia. Nesse cenário, o autor desenvolve a história dos meninos de
rua, que vivem num trapiche abandonado em um porto. Os motivos de estarem lá
eram os mais variados: alguns ficaram órfãos, outros fugiram dos maus tratos de
casa, outros foram abandonados...
São quase quarenta meninos, entre os nove e
dezesseis anos, de todas as raças. O líder desses meninos era Pedro Bala, um
rapaz loiro, de quinze anos, com uma grande cicatriz no rosto, causada por uma
briga que lhe rendeu a liderança do grupo. Bala já vivia na rua há dez anos e
conhecia cada palmo da cidade.
Os garotos apareciam na rua, sujos e
esfomeados, fumando pontas de cigarro e falando palavrões. Durante o dia, ou
mendigavam, ou praticavam pequenos furtos para poderem comer.
Além disso, praticavam grandes roubos, que
fizeram a população temer e a polícia procurar os “Capitães da Areia”, como
eram conhecidos. Os meninos pegos eram levados a um reformatório, que passava a
imagem de “modelador de caráter” para os jovens delinqüentes. Mas sabendo que
lá estariam sujeitos a todos os tipos de castigos, todos preferiam continuar
nas ruas.
Alguns meninos se destacavam no grupo:
Sem-Pernas, que recebeu esse apelido por
ser coxo e se aproveitava disso para causar pena nas pessoas, que o levavam
para suas casas, onde ele fazia o trabalho de espião: observava onde estavam os
objetos de valor e depois avisava os amigos que assaltavam a casa. E depois
fugia com eles de volta ao trapiche.
João Grande, negro de treze anos, era forte
e o mais alto de todos. Tinha pouca inteligência, mas era temido e bondoso.
José, o Professor, único que lia
corretamente, tinha ido à escola apenas um ano e meio. Era míope e gostava de
contar histórias. Sua imaginação solta criou os melhores planos de roubo.
Pirulito era um tanto religioso, magro e
alto. Tinha o rosto seco e amarelado e não era de muito riso.
Gato, o malandro do grupo, era metido a
elegante e queria se vestir bem. Tinha um caso com uma prostituta chamada
Dalva, por isso muitas noites não dormia no trapiche.
Volta-Seca, um mulato sertanejo, se
orgulhava de ser afilhado de Lampião. Vivia imitando passarinhos.
Boa-Vida era um dos que pouco participava
das atividades do grupo. De vez em quando roubava algo que passava diretamente
para Bala, para colaborar com o grupo. Vivia para tocar violão e jogar cartas,
ou então ficar sem fazer nada.
Os Capitães da Areia contavam também com a
ajuda de alguns adultos: Don’aninha, mãe de santo, sempre disposta a ajudar;
Padre José Pedro, que conquistou a confiança dos meninos e vinha lhes trazer
conforto e carinho. O Pescador Querido-de-Deus e o estivador João-de-Adão
tinham a confiança dos meninos, que, por sua vez, não mediam esforços para
recompensar esse apoio.
Foi através do próprio João-de-Adão que
Pedro Bala ficou sabendo do passado de sua família. Seu pai, Raimundo, havia
morrido baleado numa greve, lutando pelos estivadores. A mãe de Bala falecera
quando ele tinha só seis meses.
Um dia, Salvador foi assolada pela epidemia
de varíola. Como os pobres não tinham acesso à vacina, muitos morriam, isolados
no lazareto. Almiro, o primeiro capitão a ser infectado, ali morreu. Já
Boa-Vida teve outra sorte; saiu de lá, andando. Dora e o irmão, Zequinha
perderam os pais durante a epidemia. Ao saber que eram filhos de bexiguentos, o
povo fechava-lhes a porta na cara. Não tendo onde ficar, os dois acabaram no
trapiche, levados por João Grande e o Professor.
No trapiche, Dora causou espanto e confusão,
que foi contornada por Pedro Bala. Assim Dora passou a fazer parte dos Capitães
da Areia e, vestida como um deles, participava das atividades do bando. Aos
poucos, Pedro Bala percebeu que estava apaixonado. Dora que já era antes como
sua irmã, sua mãe, era agora também sua noiva.
Quando roubavam um palacete de um ricaço na
ladeira de São Bento, foram presos. Parte do grupo conseguiu fugir da
delegacia, graças à intervenção de Bala que acabou sendo levado para o
Reformatório. Ali sofreu muito, preso na cafua (espaço pequeno, embaixo de uma
escada, onde não conseguia nem esticar as pernas) ou fazendo trabalhos
forçados, mas conseguiu fugir. Em liberdade, preparou-se para libertar Dora. Um
mês no Reformatório feminino foi o suficiente para acabar com a alegria e saúde
da menina que, ardendo em febre, se encontrava na
enfermaria.
Os garotos conseguiram tirar Dora do
Reformatório, mas ela estava muito doente e morreu nos braços de Pedro Bala,
que havia tornado-a sua esposa. Don’aninha enrolou-a numa toalha branca e
Querido-de-Deus jogou-a em alto mar. Pedro, inconsolável, sentiu por dias a
ausência de Dora.
Alguns anos se passaram e o destino de cada
um do grupo foi tomando rumo. Graças ao apoio de um poeta, o Professor foi para
o Rio, e já estava expondo seus quadros. Pirulito, que já não roubava mais,
entrara para uma ordem religiosa. Sem-Pernas morreu, quando fugia da polícia.
Volta-Seca estava fazendo o que sempre tinha sonhado; aliou-se ao bando de seu
padrinho, Lampião, tornando-se um terrível matador de polícia. Gato estava em
Ilhéus, trapaceando coronéis. Boa-Vida, tocador de violão e armador de
bagunças, pouco aparecia no trapiche. João Grande embarcou como marinheiro, num
navio de carga.
Após o auxílio na greve dos condutores de
bonde, o bando Capitães da Areia de Pedro Bala, tornou-se uma "brigada de
choque", intervindo em comício, greves e em lutas de classes. Assim como
Pirulito, Bala havia encontrado sua vocação. Passando a chefia dos Capitães da
Areia para Barandão, seguiu para Aracaju, onde iria organizar outra brigada.
Anos depois, Pedro Bala, conhecido organizador de greves e perigoso inimigo da
ordem estabelecida, é perseguido pela polícia de cinco estados.
Trecho e Análise
“Vão para a porta do sindicato. Entram
homens: negros, mulatos, espanhóis e portugueses. Vêem quando João de Adão e os
outros estivadores saem entre vivas dos operários das linhas de bonde. Eles
vivam também. João Grande e Barandão porque gostam do doqueiro João de Adão.
Pedro Bala não só por isso, como porque acha bonito o espetáculo da greve, é
como uma das mais belas aventuras dos Capitães da Areia. (...)
Os homens valentes têm uma estrela no lugar
do coração. Mas nunca se ouviu falar de uma mulher que tivesse no peito, como
uma flor, uma estrela. As mulheres mais valentes da terra e do mar da Bahia,
quando morriam, viravam santas para os negros, como os malandros que foram
também muito valentes.”
Através desse trecho
percebemos as principais características de Jorge Amado: a trama nas camadas
baixas da sociedade, a ideologia política relativamente comunista, a Bahia como
pano de fundo, citações da cultura negra, enfim, Capitães da Areia é o que se
pode chamar de uma obra típica de Jorge Amado.
O País do Carnaval
A obra conta a história de Paulo Rigger que
perdera o pai, rico fazendeiro de cacau na Bahia, quando ainda era um estudante
de ginásio. A última vontade do velho Rigger foi que mandassem Paulo formar-se
na Europa. Paul, terminado o ginásio, seguiu para Paris para formar-se
doutor.
Na sua volta ao Brasil, aos 26 anos, Paulo
encontrou uma francesinha chamada Julie, pela qual sentiu forte atração.
Começaram um caso e, chegando à Bahia, foram morar numa cidade pacata chamada
Garcia, na chácara da família. Lá, Julie o traiu com o negro Honório.
Paulo, sempre envolvido em rodas
jornalísticas, começou a trabalhar em um jornal chamado “O Estado da Bahia”,
onde fez muitas amizades, dentre as quais se destaca Pedro Ticiano.
Algum tempo depois, Paulo apaixona-se por
Maria de Lurdes. Maria de Lurdes, ao revelar que não era mais moça, que já
havia se entregado a outro homem, desilude Paulo, que a deixa.
Paulo sentia-se cada vez mais só e sofreu
muito com a morte de Pedro Ticiano.
Sem Julie, Maria de Lurdes e Pedro Ticiano,
Paulo decide voltar à Europa e deixar para trás o país do carnaval.
Trecho e Análise
“Adiante, um senador, um fazendeiro, um
bispo, um diplomata e a senhora do senador conversam na boa paz burguesa dos
que têm o reino da terra e a certeza de comprarem no céu.
- Sim – diz o fazendeiro
– foi regular a safra. Mas os preços...
- Ora, coronel, o senhor
quer dizer a mim?... Mesmo pelo preço que está, o café continua a dar um lucro
fabuloso... è a riqueza de São Paulo e a do Brasil.
- Mesmo porque o Brasil é São
Paulo! – fez a senhora do senador, bairrista de irritar.
- Oh, minha senhora!
Perdoe-me se discordar de V. Exª mas...
Era o diplomata que falava.
Primeiro-Secretário da Embaixada em Paris, ainda estava inédito o seu primeiro
serviço à Pátria. Nascera ba Bahia e trazia no sangue e no cabelo a marca dos
deboches de avôs portugueses e avós africanas.
- Mas há outros grandes
Estados... Olhe a Bahia, minha senhora. A Bahia, veja V. Exª, produz tudo...
Cacau. Fumo. Feijão. E produz homens, minha senhora, grandes gênios... Rui
Barbosa era baiano”.
Nesse trecho podemos perceber algumas
características de Jorge Amado: apesar de se tratarem de personagens ricos, o
que não é comum em sua obra, vê-se claramente a crítica à burguesia, à situação
social, enfim, deixando a vista uma de suas ideologias políticas. Além disso,
como é normal das obras de Jorge Amado, há o enfoque na plantação do café e
cacau.
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