sexta-feira, 25 de maio de 2012

O DESCOBRIMENTO DO BRASIL


Enquanto o poetas parnasiano-simbolitas viajavam na volúpia dos violões que choram e perdiam a consciência da realidade no universo delirante das correspondências perdidas nos turíbulos das aras, surgem as manifestações pré-modernistas.No contexto desse sincretismo, vislumbra-se o resgate de um Brasil camuflado pelo brilho de uma rima rica ou de uma lapidação vocabular, longe do estéril turbilhão das ruas; no exato momento que um monge Beneditino trancava-se na paz e no sossego de uma Torre de Marfim.No momento dessa paranóia delirante , não era possível identificar o quadro social tenso de regiões camufladas pela máquina de fazer versos da poesia elitista parnasiana.
Emergindo do mar do preciosismo vocabular e da atmosfera litúrgica que ondeava a literatura na transição do século XIX para o século XX, surgem autores que se voltam para o Brasil do Interior. Um universo paralelo que não era contemplado pela arte oficial brasileira e que tendeu a fascinar seus investigadores pela presença da miséria do imigrante alemão perdido na utopia da terra prometida no interior do Espírito Santo, ou pela imagem reduzida à inferioridade do caboclo pincelado na contradição de Monteiro Lobato, ou ainda na denúncia dos preconceitos de ordem social e econômica de Lima Barreto.Nessa tentativa de resgate, viu-se Euclides da Cunha registrar a constatação de um conflito agrário supultado na fumaça de quatro fogos.Nota-se o ciclo do cangaço e a explosão fanática vinculada a imagem do Padre Cícero Romão Batista. Ecoa pelos corredores pré-modernistas um cheiro forte de café-com-leite. Nesse contexto,o surto da urbanização e as greves gerais imprimem nas páginas alienadas das escolas literárias tradicionais a necessidade de uma linguagem verdadeiramente brasileira , revestindo-a com o primado da dessacralização de uma ordem literária pedante e livresca. Além disso,a prosperidade do Sudeste enforcava o preterido Nordeste.Somados, esses fatores fazem surgir um contingente de autores preocupados em demonstrar um Brasil invisível para as lentes populares Assim, o pré-modernismo desencadeou o processo modernista, influenciado pelas correntes vanguardistas e que iria eclodir com a Semana de Arte Moderna.
Há de entender que a presença do tom conservador não fundamentou um abismo entre o pré-modernismo e a necessidade de ruptura com o passado e com reverência aos altares do academicismo. A ideia era retirar do incompreensível o título de nobreza, na intenção de traduzir a arte que era verdadeiramente significativa e genuinamente brasileira e que não fosse tão distante dos fatos.
Na ótica Pré-modernista, o Brasil passa a configurar um quadro estético representado pelo mulato, pelo funcionário público, pelo caipira e pelo sertanejo nordestino. Assim, esses autores deixam como herança para o Modernismo a descoberta do Brasil.

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